18 junho 2012

finalmente






Todos olhavam como ela procurava algo. Algo que ninguém entendia, algo que estava muito além do que qualquer um poderia ver. Ou sentir. Mas ela sabia, e procurava. Inquieta, sem achar, parecia cada vez mais nervosa. Dizia algo como que perdera a hora. A sua hora. Ninguém entendia, ninguém sequer imaginava o que poderia ter perdido. Por instantes, o seu cabelo longo ficava tão bagunçado pelo vento dessa noite que não chegavam a ver o seu rostro, muito menos os seus olhos, que já brilharam muito, mas deixaram de brilhar há um tempo atrás, um tempo escuro, um tempo passado, um tempo onde ninguém a reconhecia e nem ela a eles. O brilho de seus olhos era algo espetacular, fora deste mundo, como tudo relacionado a ela. Ela nunca foi deste mundo. E eles nem sabiam. Ninguém suspeitava da magia escondida atrás daqueles cabelos longos bagunçados, daquele vestido florido remendado, da pele morena não de sol. Todos sempre a acharam maluca. "Lá vai a doida" diziam pelas ruas. Riam dos seus pés descalços no chão frio, sujo. Ela simplesmente sorria. E quando sorria ninguém falava mais nada. Havia tranquilidade no sorriso, havia serenidade, havia paz. E quando ela sorria, essa paz contaminava mais que a fumaça dos carros da cidade, contaminava a alma de cada um que se aproximasse dela. Às vezes ela sumia, e como loucos todos eles caminhavam pelas ruas procurando o seu sorriso, sentiam tanta falta dela. Depois ela aparecia, e voltava a tranquilidade àquele lugar. E assim viviam todos eles. E ela. Mas ela continuava procurando. Um pequeno sentimento de desespero reinava sobre o peito de todos aqueles que olhavam sem mexer um dedo, sem saber, sem sentir. De repente, depois de uns segundos, talvez minutos, talvez horas ou dias procurando algo que ninguém sabia, ela sentou no chão. O vestido florido no chão, seus pés descalços no chão. Seus cabelos longos ainda estavam bagunçados, porém agora podiam-se ver duas estrelinhas que brilhavam atrás de todo aquele cabelo. Seus olhos. O brilho. Um silencioso suspiro unânime, e o sentimento de desespero no peito de todos rapidamente virou um calor confortante no coração de cada um. Nenhuma palavra mais foi pronunciada, e nem precisava. Ali, nesse momento, todos compreenderam. Ela sorriu mais uma vez. E então, nesse lugar, todos aqueles perceberam que havia paz. Não só por fora, mas por dentro também. Havia uma paz nela que nunca houvera antes. E todos sabiam. E ela sabia. Era a hora. Então, feito ato mágico, foi desaparecendo aos poucos. O vestido florido, os cabelos longos, os pés descalços, o sorriso. Foi indo embora devagar para um mundo distante. O seu mundo. E não sentiram mais a sua falta. Ela deixou ali a paz que encontrou. Finalmente.


p.s: And maybe we feel a guidance

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