20 agosto 2010

eu te odeio


Eu te odeio. Te odeio toda. Da ponta dos teus cabelos até a unha do pé. Odeio como olhas atrás das lentes desses óculos. Odeio teus olhos cor de amêndoa. Odeio o teu cheiro de pêssego misturado com jasmim. Odeio o teu sorriso de criança. Odeio como choras todas as vezes vendo o mesmo filme. Odeio como cantas e como tocas o violão. Odeio a tua maneira de sentar na frente do computador enquanto trabalhas. Odeio tuas mãos suaves. Odeio a curva que faz na tua cintura. Odeio como nunca penteias o teu cabelo. Odeio o teu furo no queixo e como ele parece se mostrar mais quando sorris. Odeio todos os sanduíches que fizeste para mim quando voltava do trabalho cansada. Odeio quando deitavas a cabeça no meu ombro e adormecias assim, tranqüila, delicada. Odeio quando seguravas a minha mão embaixo da mesa, e como tuas pernas entrelaçavam nas minhas ao dormir. Odeio como o teu corpo sempre encaixou perfeitamente no meu. Odeio todos os apelidos que me deste e odeio todos aqueles que me lembram a você. Odeio ouvir o teu nome, mesmo não sendo o teu. Odeio ouvir todas aquelas músicas e assistir todos aqueles filmes. Odeio sentir a brisa de uma tardezinha em Teresópolis e o teu cheiro aparecer assim, do nada. Odeio lembrar de ti. Odeio lembrar de ti. Odeio.


Eu te odeio. Sim, eu te odeio. Como quem odeia aquilo que mais o feriu. Te odeio como se odeia o frio num dia de praia. Te odeio como se odeia a luz quando se quer dormir. Te odeio como se odeiam todos os filmes de Natal. Te odeio como se odeia o horário político. Eu te odeio.

Odeio não conseguir esquecer o teu abraço às noites. Odeio querer a tua presença cada dia. Odeio não poder ligar e dizer “estou com saudades”. Odeio não saber da tua vida. Odeio que não ligues para a minha. Odeio saber que és feliz. Sim, odeio saber que és feliz sem mim. Odeio os teus projetos, os teus trabalhos, os teus amigos. Odeio a cidade onde moras, odeio a tua casa. Odeio as fotografias. As tuas. Odeio como todo mundo parece te amar. Odeio que te amem. Odeio ser lembrada a cada momento de como a nossa vida era perfeita. Odeio a cama que dividimos. Odeio o quarto que ficou vazio. Odeio o som do ventilador. Odeio as tuas roupas que ainda estão comigo. Odeio não ter forças para devolvê-las. Odeio as cartas que me enviaste. Odeio lê-las e não ter coragem de jogá-las fora. Odeio não querer jogar nada fora. Odeio não te esquecer. Odeio não te esquecer. Odeio não te esquecer.


Odeio te querer. Odeio te precisar. Odeio te amar. Odeio não te ter mais. Odeio os dias vazios. Odeio o abraço perdido. Odeio o beijo não dado.
Eu te odeio.



p.s: I need you to need me… then love until we bleed… then fall apart in parts…

4 comentários:

Anônimo disse...

Eu odeio, apenas por odiar.
Ótimo texto! ;**

Poeta Đa Lua disse...

... e que esse sentir retorne sem precisar sangrar e reintegre em peças de ternura.

dizem que não existe ódio, senão o amor que adoeceu, profundo desabafo.
beijo-te e até...

Unknown disse...

Mulher não presta. ve se aprende.
E isso passa.

Victória disse...

Flor, você consegue mesmo dizer o que eu sinto. E que ela, onde quer que esteja saiba o quanto é amada. Quanto afeto há por trás de todas essas palavras.
Um beijo grande